domingo, 2 de junho de 2013

Sugestões Bibliográficas - Calvino



O fenômeno da religião é tema constante de pesquisas acadêmicas em diversas áreas. O resultado é um verdadeiro colosso bibliográfica, o qual demandaria uma vida inteira de leituras para ser absorvido. Contudo, é importante, para todos os interessados na temática, ter familiaridade com pelo menos parte desta vastidão bibliográfica. Ao pensar nisso, resolvi indicar algumas leituras de grandes estudiosos da religião, capazes de nos dar uma boa noção inicial dos problemas relacionados à experiência religiosa. De modo algum esta lista é definitiva ou mesmo a melhor; é simplesmente a minha lista, a qual pode, e deve, ser completada com outras indicações. 

Dividi a lista em dois grupos: os livros que li, e dos quais posso fazer uma abordagem mais meticulosa, e os livros que não li, mas os quais são importantes, sendo citados e usados pelos autores do primeiro grupo.

LIVROS LIDOS:

Finkelstein, Israel; Silberman, Neil Ascher. A Bíblia não tinha razão (The Bible Unearthed: Archaeology’s New Vision of Ancient Israel and the Origin of its Sacred Texts), 2003.
Este livro é um clássico da difusão científica em arqueologia. À primeira vista – até pelo bombástico título em português – poderia parecer ser uma obra de militância ateia. Nada mais longe da verdade. Sua exposição é sóbria, tendo por objetivo a exposição das descobertas arqueológica e históricas e seu confronto com o texto bíblico.
Os autores apresentam, de forma clara e bem estruturada, as conquistas de um século e meio em pesquisas arqueológicas, históricas e textuais sobre o antigo testamento, tanto as pesquisas que buscavam chancelar o texto bíblico, quanto as mais recentes que o negam. Os resultados mais recentes das pesquisas apontam para a construção textual dos principais livros deuteronômicos durante os séculos VII-VI a.c, época do reinado de Josias em Jacó, quando ocorreu um movimento político-social-religioso de estabelecimento do monoteísmo e reinterpretação do passado hebreu. Figuras centrais da histórica bíblica – Abraão, Isaac, José, Moisés, etc. - e também acontecimentos chaves – a peregrinação dos patriarcas, a ida dos hebreus para o Egito, o êxodo, etc. – são revelados como construções deste movimento. Na verdade, o povo hebreu teria um passado bem menos glorioso, repleto de acontecimentos prosaicos e de uma luta pela sobrevivência no centro da disputa entre poderosos impérios do antigo oriente médio. 

Aqui, é possível baixar sua versão original em inglês:
E aqui, uma versão em espanhol:

A versão em português está esgotada, mas pode ser comprada – a um preço caríssimo – na estante virtual. Não há cópias na UFMG, mas há um exemplar na biblioteca Luiz de Bessa, na praça da Liberdade.
Há também um documentário no youtube, legendado em português.

Armstrong, Karen. A Grande Transformação: o mundo na época de Buda, Confúcio e Jeremias (The Great Transformation: the world in the time of Buddha, Socrates, Confucius and Jeremiah), 2006.
Entre os séculos IX e IV a.c um profundo movimento de renovação social eclodiu na região compreendida entre a Grécia e a China, movimento capaz de instaurar uma nova mentalidade ética, religiosa e política, o qual levaria ao surgimento das grandes tradições moral, filosófica e religiosa dominantes no mundo ocidental e oriental posterior. Por que surgiram tais movimentos? Como viviam as pessoas no período antes, durante e depois este movimento? Quais as interrelações entre cada vertente do movimento? Quais as motivações sociais, doutrinárias, políticas e econômicas?
Karen Armstrong tenta responder a estas e outras questões em seu livro. Diferente de “A bíblia não tinha razão”, a “Grande Transformação” não é uma exposição e interpretação de descobertas arqueológicas, embora tenha também este elemento. Para além dos aspectos históricos e arqueológicos, situa-se a interpretação filosófico-cultural da autora, sempre pensando as construções doutrinárias do movimento em sua inserção social, sem, contudo, reduzir a doutrina à mera reprodução das vinculações sociais. As ideias de universalidade humana, razão, moralidade, ascetismo, Deus, unidade, entre outras, nos são apresentadas em sua complexa gênese.
Aqui, uma edição em espanhol:
Existe exemplar na biblioteca da UFMG.

Delumeau, Jean. O que sobrou do paraíso? (Que reste-t-il du paradis?), 2000.
A noção do paraíso sofreu diversas mudanças ao longo da história cristã. Herdada do judaísmo tardio, e com elementos neoplatônicos, o paraíso foi identificado com diversas regiões do mundo físico. Na modernidade, porém, com o fim da teologia escolástica e a ascensão da cosmologia moderna, o estatuto de localidade perdeu sentido e o paraíso passou a ser considerado como estando em um não-lugar. Através da análise de textos filosóficos, teológicos, religiosos, e também de pinturas, Delumeau nos reapresenta a saga do paraíso desde seu início até seu, aparente, declínio no mundo moderno.
Há um exemplar na biblioteca.
Delumeau, Jean. A civilização do renascimento. (La civilisation de la renaissance), 1964.
Obra importante para a compreensão do contexto sócio-cultural-político no qual eclodiu a reforma protestante. O autor dedica especial análise à reforma, do mesmo modo que analisa a situação geral da cristandade à época.
O volume 1, em português, pode ser baixado aqui:
Existem exemplares na biblioteca. 

McGrath, Alister. A vida de João Calvino (A Life of Jean Calvin), 2004.
Calvino é um autor importante e pouquíssimo estudado. Vítima de muitas deturpações, é uma personalidade central para a compreensão da modernidade e da contemporaneidade. O movimento surgido de sua atuação estabeleceu os rumos das sociedades inglesas e holandesas, chegando a ter atuação vital na fundação dos Estados Unidos. A influência do calvinismo na filosofia é imensa, não sendo poucos os filósofos diretamente filiados ou de origem calvinista.
Neste livro, é possível encontrar uma exposição geral, bem feita e documentada, sobre a vida e o pensamento do reformador francês.
Não há exemplares na biblioteca, e tão pouco encontrei na internet para baixar.
 McGrath, Alister. The intellectual origins of european reformation, 2003.
O livro aborda as origens do pensamento protestante no interior da filosofia medieval e da antiguidade tardia. Trata-se de uma obra importantíssima para o rastreamento genético das ideias reformistas.
Para baixar em inglês:
Não há exemplar na biblioteca. 

Eire, Carlos. War against the idols: The reformation of worship from Erasmus to Calvin, 1986.
Outro livro importante para a compreensão do movimento protestante. O autor analisa a condenação protestante ao culto dos santos e à devoção medieval. Oferece uma profunda consideração sobre a devoção no começo da modernidade e sua condenação inclusive no interior do catolicismo.
Em inglês (arquivo djvu):
Também não há exemplares na biblioteca. 

Azevedo, Israel Belo de. A celebração do indivíduo: a formação do pensamento batista brasileiro, 1996.
Uma das poucas obras que abordam o protestantismo brasileiro pelo viés social e doutrinário. Nela, os batistas brasileiros são analisados na gênese de sua formação e em sua inserção social. Um dos destaques do livro situa-se na análise sobre a vinculação do protestantismo nacional com Israel, vinculação fundada em uma opção teológica de valorização do antigo testamento.
Há um exemplar na biblioteca.


Livros não lidos:
Agora, listo alguns livros que eu ainda não li, mas cuja importância é fundamental. Por não ter lido, não farei uma exposição sobre o conteúdo, igual fiz acima, mas apenas colocarei as referências e, quando for o caso, um link para baixar.
Armstrong, Karen. A history of God, 2003.
Finkelstein, Israel; Silberman, Neil Ascher. The quest for the historical Israel: debating archaeology and the history of early Israel, 2007. (este, diferente de “A bíblia não tinha razão”, é um estudo acadêmico, voltado para um público mais especializado)
Malina, Bruce J. The social world of Jesus and the gospels, 1996.
McGrath, Alister. Iustitia Dei: A history of Christian doutrine of justification, 2005.
Thompson, Thomas L.  Early history of the israelite people: from the written & archaeological sources, 2008.

Voorst, Van Robert. Jesus outside the new testament: an introduction to the ancient evidences, 2000.
Estes são alguns livros que eu indico para leitura. Como já disse, não é uma lista fechada ou definitiva, por isso, outras propostas serão bem recebidas.

David Emanuel

Nenhum comentário:

Postar um comentário